Sharpe Ratio: por que continua sendo um dos indicadores de risco-retorno mais usados
Quem não arrisca, não petisca?— mas será que o petisco compensa o risco?
O Sharpe Ratio continua firme e forte como um dos indicadores mais populares para avaliar a relação entre retorno e risco em investimentos. A ideia dele é bem simples: pegar o retorno médio do ativo ou estratégia e dividir pelo desvio-padrão dos retornos, dando um “score” de quantos pontos de retorno conseguimos para cada ponto de risco assumido. Na versão acadêmica, a fórmula costuma subtrair a taxa livre de risco do retorno, mas nem todo mundo faz isso na prática.
onde:
E(R) = retorno esperado (ou médio)
Rf: taxa livre de risco (pode ser ignorada ou ajustada, dependendo do contexto)
σ = volatilidade (desvio-padrão dos retornos)
O Sharpe Ratio indica se o retorno compensa o risco. Valor negativo ou próximo de zero sugere desempenho fraco. Entre 0 e 1, é modesto. De 1 a 2, geralmente satisfatório. Acima de 2, muito bom. Ultrapassando 3, pode ser excepcional ou fruto de período curto. É necessário sempre avaliar a consistência e o contexto.
Por que o Sharpe Ratio ainda é tão popular?
É fácil de entender
Não precisa de fórmulas muito complicadas e qualquer um que já tenha mexido com retornos e variabilidade entende a lógica.Ajuda na comparação de estratégias
Você pode usar o Sharpe Ratio para comparar diferentes fundos, ativos ou modelos, vendo qual tem a “melhor” relação risco-retorno.Base acadêmica forte
Criado por William Sharpe (ganhador do Nobel), ele aparece em qualquer curso de finanças ou publicação sobre teoria de portfólio.
Afinal, por que vale a pena olhar risco e retorno juntos?
Pode parecer óbvio, mas não adianta só focar no rendimento. Se você está correndo um risco gigantesco para ganhar um pouco mais, talvez não valha a pena. O Sharpe Ratio tenta traduzir essa ideia de “será que o ganho extra justifica o risco maior?” em um número só. Mesmo com suas imperfeições, é uma referência que todo mundo entende.
Por que nem sempre subtraem a taxa livre de risco na fórmula?
Em alguns mercados, não existe um ativo realmente sem risco
Se o título público do país não é tão seguro ou se a taxa é tão baixa que quase não faz diferença, muitos acabam ignorando.Horizontes muito curtos
Em trades diários, a taxa anualizada vira irrelevante.Benchmarks
Às vezes, a meta é bater o mercado (Ibovespa, S&P 500, etc.), então o pessoal usa o Information Ratio (que compara diretamente contra o índice), em vez de subtrair a taxa livre de risco.
Críticas comuns e opções alternativas
“Boa” vs. “má” volatilidade
Crítica: o Sharpe penaliza igualmente grandes altos e grandes baixos.
Alternativa: Sortino Ratio, que só foca na volatilidade negativa (ou seja, nos tombos, e não na parte boa).
Visão limitada de risco
Crítica: usar só o desvio-padrão ignora riscos de cauda, liquidez, alavancagem e por aí vai.
Alternativa: métricas como Value at Risk (VaR), Conditional VaR (CVaR) ou até análises de stress testing para entender os cenários extremos.
Não é first-order stochastic dominance measure
Crítica: esse conceito, de forma simples, quer dizer que um ativo é preferível a outro em toda a distribuição de retornos, olhando a aversão a perdas. O Sharpe Ratio usa só média e volatilidade e pode mascarar assimetrias e caudas pesadas.
Alternativa: Omega Ratio ou métodos que considerem a forma completa dos retornos (partial moments).
Problema de definir a taxa livre de risco
Crítica: se a taxa livre de risco for irreal ou quase zero, acaba nem fazendo sentido subtrair.
Alternativa: usar o Information Ratio, que compara com um índice de mercado, ou simplesmente manter o Sharpe “bruto”.
Quantos dados eu preciso para confiar no Sharpe Ratio?
Séries históricas robustas
Se você tiver só alguns meses de dados, um evento grande (positivo ou negativo) pode deformar o Sharpe. O ideal é ter retornos ao longo de diferentes cenários de mercado.Testes estatísticos
Existem métodos como Jobson & Korkie ou Gibbons, Ross & Shanken (GRS) para ver se o Sharpe Ratio é “estatisticamente relevante” ou comparar Sharpe Ratios diferentes.Bootstrap e intervalos de confiança
É possível rodar simulações (tipo bootstrap) para ver quanta variação pode existir no Sharpe, dadas as incertezas dos dados.Janelas móveis (rolling windows)
Se você calcula o Sharpe em intervalos móveis e ele muda radicalmente a cada mês, talvez não seja muito confiável.
Usos do Sharpe Ratio em otimizações de carteira
O Sharpe Ratio não serve só para exibir no relatório: ele também pode ser usado em processos de otimização de portfólio.
Markowitz (Modern Portfolio Theory)
Um clássico é tentar “maximizar o Sharpe Ratio” — ou seja, buscar o portfólio de fronteira eficiente que oferece o melhor equilíbrio de retorno e risco.Hierarchical Risk Parity (HRP)
Proposta por Marcos López de Prado, é uma abordagem mais moderna que agrupa ativos de acordo com suas correlações para evitar problemas de concentração e de matrizes de covariância instáveis. Embora a base do HRP seja a paridade de risco, você pode combinar a ideia com um objetivo de maximizar Sharpe ou filtrar ativos com Sharpe Ratio mínimo antes de montar a alocação. Isso ajuda a garantir que você esteja diversificando não só pelo risco puro, mas também assegurando um certo patamar de risco-retorno em cada “cluster” de ativos.Outras metodologias
Em otimizações robustas (que tentam levar em conta incertezas de estimação), o Sharpe Ratio ainda pode entrar como critério principal ou como parte de uma função de utilidade mais ampla. A ideia é sempre tentar equilibrar retorno e risco de forma que o investidor tenha mais confiança nas projeções, mesmo em cenários que fogem do “normal”.
E o Information Ratio?
Muito parecido com o Sharpe, mas em vez de olhar para a taxa livre de risco, ele se concentra no excesso de retorno em relação a um benchmark (ex: Ibovespa) e divide pela volatilidade desse excesso (tracking error).
É útil pra quem quer ver se um gestor supera sistematicamente o índice de referência sem assumir “risco demais” nesse processo.
Por que o Sharpe Ratio ainda é tão relevante?
Mesmo com todas as críticas, ele permanece como um padrão de mercado: todo mundo entende, calcula e compara Sharpe Ratios. É uma referência rápida e universal para ver se a estratégia “vale a pena” em termos de risco-retorno. Com mais dados e outras métricas de apoio (Sortino, VaR, etc.), ele continua sendo uma ferramenta prática. No fim, a decisão de usar ou não o Sharpe Ratio (e de subtrair ou não a taxa livre de risco) depende do contexto e da finalidade da análise — mas, de modo geral, esse indicador ainda reina quando o assunto é bater o olho e ver se o jogo está valendo o risco.
Até a próxima!